Os últimos incêndios florestais na Ilha da Madeira confirmam, de forma trágica para a Região Autónoma da Madeira e para as suas populações, extensos prejuízos económicos e profundos custos para a conservação da natureza. Repetem-se grandes incêndios, com imensa capacidade destruidora, na Ilha da Madeira com consequências lesivas para todo o desenvolvimento regional.
Mais do que a constatação dos danos importa que se considerem os nexos causais de tamanha destruição.
Na leitura que já é possível elaborar sobre a dimensão do desastre económico e ambiental, para a CDU, tudo fica principalmente a dever-se à desestruturação do mundo rural, ao desordenamento do território, ao desordenamento florestal (com predomínio das de espécies muito inflamáveis, como o eucalipto e outras plantas infestantes, em áreas que já foram áreas ardidas em anteriores incêndios florestais, e o pinheiro-bravo) e a uma profunda falta de educação florestal/cívica nestas ilhas.
Estes desastrosos incêndios florestais têm como causa mais remota, mais do que um ou outro caso de mão criminosa, a falta de investimento público direccionado para a prevenção, a insuficiência da intervenção dos poderes públicos no ordenamento do território, no planeamento florestal, e o desleixo das entidades governativas quanto à intervenção e recuperação de áreas ardidas.
Como as vastas áreas ardidas na Ilha da Madeira o confirmam, pouco ou nada foi feito em matéria de ordenamento do território, especialmente no que respeita à inversão da profunda e dramática desestruturação do mundo rural. Para além do abandono e da "morte social" de grande parte das freguesias e localidades do mundo rural na Ilha da Madeira, nada tem sido concretizado para vincular, directa e imediatamente, os particulares relativamente à elaboração dos planos de gestão florestal, a normas de intervenção nos espaços florestais. Nesta Região Autónoma, quase tudo está por fazer no que diz respeito a uma política regional e municipal de combate à proliferação do eucalipto e de outras plantas infestantes e de elevado risco, nem estão estipulados rigorosos limites de área a ocupar por eucalipto.
A somar a estas causas mais directas, importa adicionar o facto de que, por parte das entidades oficiais, se somam contradições naquelas que são as intervenções no sentido de proteger a Floresta Laurissilva, de modo a garantir a protecção da floresta endémica destas ilhas atlânticas.
Outro dado que estes incêndios florestais de outubro de 2023 colocam é o do muito que ficou por fazer para uma necessária recuperação de tudo quanto foram os devastadores incêndios de 2016 que assolaram a Madeira. Uma das consequências mais visíveis em muitas das zonas que foram afectadas em anteriores incêndios florestais são, agora, o revés cumulativo dos recentes incêndios que estão a deflagrar na Ilha da Madeira ao longo deste mês de outubro de 2023.
Os actuais incêndios florestais também deixam a nu as falsas promessas dos governantes de que tudo fariam para proteger a floresta na ilha da Madeira. A escassez de linhas corta-fogo florestal, a progressiva proliferação do eucalipto, naquela que tem sido uma errática política florestal, faz com que reafirmemos a necessidade de serem consideradas medidas urgentes, no novo quadro parlamentar, através de propostas que garantam a eficaz intervenção sobre as causas dos problemas.
É cada vez mais necessária uma viragem na política florestal na Região Autónoma da Madeira.